domingo, 23 de fevereiro de 2014

Desejo para o ano que vem...

Porque ás vezes, perceber a grandeza do que somos é o que nos torna fortes para enfrentar o mundo...
Com quase 3 meses de atraso:
                   
Feliz Ano-Novo!

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            Era véspera de final de ano. Como sempre fazia, sentou-se à escrivaninha para enumerar as coisas que gostaria que acontecessem no ano que estava por vir. Enquanto escrevia, lembrava-se dos desejos feitos há exato um ano atrás, muitos não realizados, e pensava nos motivos pelos quais isto não aconteceu. Pensando e pensando, concluiu que seus desejos deixaram de acontecer pela sua própria insegurança, seu medo de arriscar no novo, seu medo de errar.
            O lápis ficou suspenso no ar. De súbito, arrancou a folha do caderno onde estavam os desejos, embolou-a e lançou-a na lixeira. Resolveu fazer diferente: ao invés de enumerar as coisas que queria que acontecessem, enumeraria as coisas que não gostaria que acontecessem, melhor, tudo aquilo que achasse ruim em sua vida, aquilo que não gostava, maus sentimentos, más ações, receios, tudo.
           Animado com a ideia, o lápis começou a agitar-se em sua mão, querendo desenhar o papel. Ela pensou em algo que sempre fazia, mas que detestava: tinha medo das pessoas. Odiava a sensação de insegurança que determinadas pessoas lhe passavam e a maneira como se portava diante delas. Logo este seria o item que encabeçaria a sua lista. Mas, de repente, estacou. Passou pela sua mente que sem esta insegurança, sem esta relutância em tomar determinadas atitudes, poderia tornar-se uma pessoa desagradável e inconveniente. Então pôs isto nas linhas seguintes. Pronto: lá se foi a insegurança, mas ainda seria agradável e necessária.
          Suspendeu o lápis novamente: nem sempre ser desagradável é ruim. Existem situações em que é necessário uma resposta mais enfática para evitar atritos e mais aborrecimentos. Não, ela não queria ser semelhantes aos estúpidos, que acatavam a tudo sem protestar, sem expor suas opiniões. E, mais uma vez, o lápis voltara a riscar o papel, orgulhoso da tarefa que realizava. Incrível como as lembranças fluíam em sua mente, das atitudes cometidas contra a sua pessoa, o ódio que sentira e o receio de reagir, as brigas que tivera, o reflexo de sua frustração, diante da incapacidade de confrontar uma situação, vazando pelos seus olhos...  
          Estacou. Apesar de ruins, aquelas sensações bem ou mal lhe foram convenientes em determinados momentos. Se não brigasse por algo que desejava talvez jamais o teria; se não chorasse por um motivo qualquer, a mágoa nunca sairia do seu coração. Deixar de reagir a provocações já salvou muitas vidas, enquanto que a atitude contrária só fez perder.
         Pouco a pouco a borracha tomou o lugar do lápis, apagando as palavras do papel, até não haver nada mais escrito. Buscou no fundo de sua mente, mas não encontrou o que escrever, pois para cada palavra que pensava merecer estar na lista, havia uma justificativa para que ela não precisasse estar. Deitou o lápis no papel e ficou ali a admirar a folha em branco: nela continham todas as coisas que considerava ruins em sua vida. Percebeu então o quão importante são os pequenos tropeços que damos em nosso caminho e principalmente como amava seu próprio jeito de ser. Haviam poucas iguais a ela no mundo, mas não era melhor nem pior que ninguém: era simples, única e exclusivamente ela.
         O sorriso saiu furtivamente de seus lábios, iluminando seu rosto. "Que bom que está em branco", pensou. E erguendo-se da cadeira, foi até a lixeira de onde retirou um papel embolado, cujo conteúdo eram as coisas que desejava que acontecessem no ano que estava por vir.
          E pôs-se a escrever.


Para Jack