Exercitar o cérebro lendo e escrevendo é a única maneira de desenvolver o seu talento. E um bom exercício de escrita são as fanfics, ficções criadas por fãs baseadas em histórias de outros autores. Geralmente vem do desejo imenso de preencher vazios, ou simplesmente a vontade de continuar uma história.
A série da fanfic a seguir é baseada no livro A senhora do Trílio de Marion Zimmer Bradley, que por sua vez vem a ser o quinto e último livro de uma série iniciada em O trílio negro, obra escrita por ela juntamente com Julian May e Andre Norton. Se é importante lê-los antes de acompanhar esta história? Talvez sim, caso queira se aprofundar no que aconteceu antes dos personagens que encabeçam esta história e ter maiores detalhes do mundo das três luas criado pelas autoras.
Desejando somente acompanhar, ler A senhora do Trílio basta...
Capítulo I - Casal
Levantou-se cedo, antes mesmo do sol brilhar através das vidraças da torre e lhe
desejar bom-dia. Enquanto os cabelos avermelhados, ainda emaranhados, cobriam
parte de seu rosto, procurou respirar fundo e controlar-se para vistoriar
mentalmente seu território, cada parte de uma vez. As terras onde se deitava o Reino de
Laboruwenda, oriundo da fusão dos reinos de Labornok e Ruwenda após uma guerra
ocorrida duzentos anos antes dela nascer, dependiam desta varredura todas as
manhãs. Com o tempo aprendera a fazer isto com cautela: antes era invadida pelo
“sentido da terra”, e o excesso de informações era demais para uma mente tão
jovem processar.
–“Bom dia
Mika!” – o cumprimento invadiu seus pensamentos, tão logo terminou a tarefa –
“agora que acordou pode vir aqui me ajudar?”
Mikayla não
respondeu. Calçou os chinelos felpudos e o robe aveludado que ajudava a
suportar a temperatura gélida dos corredores da torre em que habitava - não que fossem necessários, pois aprendera a controlar a temperatura do próprio corpo anos atrás. A porta
do quarto ao lado estava entreaberta: um rapaz encontrava-se aos pés da cama
arrumando uma bolsa de viagem. Pouco mais alto que ela, possuía um farto
cabelo cacheado e preto, cortado de maneira a deixar a nuca à mostra. Não era musculoso
como os guerreiros e soldados que conhecia, era até um tanto magricela, mas havia nele a postura e a graça dos que habitam na
corte.
Ela foi
entrando pé ante pé.
– Estou sentindo você! – o rapaz se virou e a
abraçou. Ela tentou resmungar qualquer coisa mas ele a cobriu de beijos – Você esqueceu-se de se bloquear, Arquimaga!
– Você que é um Arquimago muito intrometido, Senhor
Duque Fiolon de Var! – Ela olhou para a bolsa quase pronta, com ar de desânimo
– Precisamos mesmo disto?
– Já lhe expliquei que sim... É necessário manter as
aparências para evitar um conflito entre nossos reinos e preservar nossa segurança.
Segundo as tradições, arquimagos são celibatários e tirando nosso empregados, ninguém mais sabe o que somos; o
Rei de Var anda me apresentando para alguns homens influentes da corte, que possuem belas filhas, se descobre
o que você se tornou, insistirá para que eu faça alianças através do casamento.
– Isso nunca!
– E se tua família descobrir o que eu sou pode me
impedir de ficar com você, temendo o passado desconhecido do meu pai...
– Eu sei... Acho que só estou nervosa: não vejo meus
pais há anos e apesar de não sentir a mínima falta deles (e ter certeza de que não
sentem a minha!), é estranho voltar para o castelo e celebrar meu casamento!
Neste
instante Enya, a serva nyssomu, bateu na porta, informando que o café estava
posto na sala de refeições. Fiolon pôs a bolsa nas costas e desceu com as duas mulheres. Enya
informou-os que soube através de sua irmã Ayah, que trabalha no castelo, que as pessoas na Cidadela já estavam ansiosas para saber como
estava a sexta filha do rei. Retirada da companhia dos pais aos doze anos de
idade pela antiga arquimaga da terra, Mikayla foi treinada para ser
sua sucessora, mas não aceitou de bom grado, o que rendeu uma série de
problemas, contratempos e rixas entre as duas. Porém seu íntimo sabia que
aquela era sua função, uma vez que entendia o chamado da terra como poucos.
Passados seis anos, todos queriam saber que mulher aquela criança teimosa se
tornara, agora educada na companhia de uma maga.
Mulher...
Mikayla não sabia quando se tornaria uma. O envolvimento com magia pareceu
atrasar o desenvolvimento dos corpos dela e de Fiolon, que também recebera
educação para magia no mesmo período em que Mikayla esteve com a Arquimaga: tinham
dezoito anos, mas quem os vissem dar-lhes-iam no máximo catorze, devido aos
traços ainda infantis. A única explicação que conseguiram para isto era a longevidade
dos arquimagos: Haramis, a antiga arquimaga, vivera 200 anos; a arquimaga antes dela, Binah, também.
Não havia registros disto nos livros da biblioteca da torre em que viviam, nem em nenhum
outro lugar que conhecessem; apesar de Haramis ter tentado ao máximo prepará-los e juntar todo conhecimento que tinha naquela propriedade,
muitas informações ficaram de fora.
–
Precisaremos usar truques de magia para parecermos mais velhos, Fio... um pouco
de charme cairá bem...
– Não
exagere: não quero ninguém tentando conquistá-la!
– Deverei
parecer um monstro então? Um skitreck fedorento bastante escamoso?
Fiolon
sorriu. Ele foi o real motivo de Mikayla ser tão relutante em aceitar seu papel como futura arquimaga; segundo as lendas, tornando-se uma, ela não poderia se casar.
Mas um golpe do destino fez com que Fiolon se tornasse o arquimago das terras
de Var, o Lorde Branco, em uma vã tentativa de Haramis de mantê-los separados: ao enviá-lo para longe de Laboruwenda, ele, com o pouco de magia que já dominava,
foi tomado pelas terras de Var, o reino vizinho, para ser seu protetor. Escondeu sua verdadeira
vocação até de seu tio, Rei daquelas terras, que o recebera na corte de braços abertos e
tornou-o um de seus favoritos.
Tão logo
terminaram o desjejum, Fiolon chamou um abutre gigante; partiria para o reino
de Var a fim de ter uma audiência com o Rei, que representaria seus pais durante
o casamento, já que a mãe morrera no parto e ninguém nunca soube
quem era seu pai – o maior escândalo que uma corte já viu. Despediu-se de
Mikayla, que ficou vendo-o partir até que se tornasse um pontinho no horizonte.
Haramis o expulsara inúmeras vezes daquela torre; aquela era a primeira vez
que não havia pesar na separação, e seu
casamento era um meio de garantir que isto jamais iria acontecer, ainda que
precisassem passar longos períodos separados, já que, como arquimagos de terras
distintas, estar nelas era
fundamental para atender as necessidades que surgissem e restabelecer o
equilíbrio caso alguma coisa desse errado.
Encontrava-se já fora das vistas de Mikayla quando o pingente do colar que carregava aqueceu-se e um “eu te amo” desviou seus pensamentos. Ele não precisou dizer, bastou apenas pensar: a léguas de distância, a jovem de cabelos avermelhados sentiu o peito arder por causa do colar idêntico ao que o rapaz usava, e em seu íntimo ouviu a resposta: “eu também amo muito você!”
Encontrava-se já fora das vistas de Mikayla quando o pingente do colar que carregava aqueceu-se e um “eu te amo” desviou seus pensamentos. Ele não precisou dizer, bastou apenas pensar: a léguas de distância, a jovem de cabelos avermelhados sentiu o peito arder por causa do colar idêntico ao que o rapaz usava, e em seu íntimo ouviu a resposta: “eu também amo muito você!”
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