Naquele
reino de personagens estranhos, “uma prostituta chamada Brasil se esqueceu de
tomar a pílula e a barriga cresceu”.² Ela era uma vaca, de lindos cabelos
verdes, onde toda fauna e toda flora se abrigava; seus olhos eram de um azul
infinito, cristalino como as águas e como o céu. E de suas centenas de tetas
escorriam leite e mel, que também saciava a fome de Povus, a quem ela servia.
O
problema era seu cafetão. Politicvs era um ser ardiloso, mesquinho e cruel.
Ficou furioso quando Brasil engravidou, mas percebeu que, com sua gravidez, as
tetas produziam mais. Brasil não quis se livrar dos próprios filhos e garantiu
a Politicvs que eles iriam ajudá-la a cuidar de Povus. Sob esta promessa
nasceram os trigêmeos Saúde, Educação e Cultura e com o leite da mãe cresciam
bem. Até que Politicvs passou a exigir mais da sua parte, mas ficaria feio para
ele reclamar na frente de Povus: então, na calada da noite, enquanto todos
dormiam, drenava o leite de Brasil e este começou a faltar. Povus indignou-se
com a falta de leite e Politicvs espalhou para quem quisesse ouvir que Brasil
não estava cumprindo com seus deveres porque Povus não lhe dava as devidas
recompensas. Mas Brasil se esforçava em atender Povus, e os filhos
dela a ajudavam, como prometido. E com Saúde, Educação e Cultura, Povus começou
a se questionar sobre a real necessidade de ter Políticvs intermediando sua
relação com Brasil. Assim, prevendo que deixaria literalmente de mamar nas
tetas de Brasil, Políticvs lançou-se em um plano arriscado: sempre na calada da
noite, tirou também o leite dos filhos de Brasil. Saúde e Educação foram os
primeiros a definhar, enquanto Cultura resistia bravamente. Brasil continuava
reservando igualmente suas parcelas de leite para seus filhos, que se revertia
em prestação de serviços para Povus, mas enfraquecidos, o serviço das crianças
era cada vez mais mal feito. Povus novamente procurou saber o que estava
acontecendo e Politicvs prontamente respondeu: “Você não está recompensando
Brasil suficiente, logo, falta leite para as crianças!”. “Mas cultura está
bem!”, argumentou Povus, “É claro: é ele quem tira o leite dos outros irmãos!
De quem você precisa mais? Vamos tirar o leite de Cultura e assim sobrará mais
para os outros dois!”.
O
plano deu certo: Brasil continuava a distribuir igualmente o leite entre seus
filhos, mas na calada da noite Politicvs tomava uma parte de Cultura para si e
distribuía o restante para os outros dois irmãos. A melhora deles foi
considerável, mas não suficiente. “Você precisa pagar mais pelos serviços de
Brasil! Só assim vai melhorar! Esta mãe ingrata está deixando de produzir e a
culpa é sua: pague mais! Pague mais!”, gritou Politicvs aos quatro cantos.
Povus triplicou sua contribuição pelos serviços de Brasil, ela era tributado de
todas as formas possíveis e inimagináveis – chegando a pagar para ter que
trabalhar! Mas Brasil nunca via o retorno deste dinheiro: tudo era guardado nos
bolsos, nas malas, nas calças e nas cuecas de Políticvs. O leite estava
acabando. Saúde e Educação definhando, seu irmão mais velho, Cultura, há muito
morrera de fome. Povus também enfraqueceu, não conseguia pensar. Só sabia
esbravejar e brigar por coisas idiotas; não tinha forças para mais nada,
convencido de que a culpa era de Brasil, aquela vaca ingrata que não servia para
nada e daqueles que pensavam diferente dele.
Vendo
que a vaca ia para o brejo, Politicvs arrumou suas malas e foi para um paraíso
fiscal qualquer, não sem antes deixar seus filhos de olho nela: enquanto a vaca
desse uma gota de leite, ele queria a sua parte.
E
Povus, sem Saúde, Educação e Cultura, só sabia gritar: “Pátria que me Pariu!”³
¹Bombyx Mori é o nome
cientifico do Bicho da Seda, que por sua vez é o título do segundo livro que
J.K. Rowling escreveu sob o pseudônimo de Robert Galbraith. Nele, um detetive
investiga a morte de um autor cujo livro (Bombyx Mori) retrata, de maneira
pouco ortodoxa e cheia de analogias, várias personagens de sua vida real.
² e ³: Versos da música
“Pátria que me pariu” de Gabriel, o Pensador.