Resenha #3 - A História sem fim



           Falar sobre “A história sem fim” é remontar o passado de toda uma geração que nasceu entre aos anos 80 e 90. Pergunte a qualquer um deles e lembrarão imediatamente do cachorrão voador - que na verdade era um dragão! E certamente confirmarão que se pode sim, morrer de tristeza. O filme de mesmo nome marcou época; suas continuações, no entanto, não fizeram o mesmo sucesso, vindo inclusive a ser repudiada por Michael Ende, autor do livro.

            Mas o objetivo aqui não é falar dos filmes e sim deste m-a-r-a-v-i-l-h-o-s-o livro, perfeito para crianças e adultos. Para aqueles que assistiram ao filme (ok, prometo que será a última vez que usarei esta referência!) a primeira parte do livro é toda ele: a história de um herói em busca do salvador de um mundo fantástico chamado Fantasia, que abriga tudo que nossa imaginação é capaz de criar. Esse mundo está sendo atacado por uma praga que a tudo destrói e um jovenzinho é escolhido para encontrar o salvador. A narrativa neste momento prende por duas razões: uma é a caracterização deste universo fantástico, ampliada a cada virada de página com os avanços de Atreiú – nosso personagem principal – em busca do herói que salvará Fantasia. Sem pista alguma, Atreiú vai coletando informações, fazendo amigos e inimigos, enquanto descobre mais sobre o mundo em que vive e a tal praga que o assola. A outra razão é uma questão visual: a história, narrada em dois tempos, um que mostra alguém que a lê (e este alguém não é você!) e no outro as aventuras de Atreiú em si, possui duas cores para diferenciá-los. Isso é importante no primeiro clímax da história, quando descobrimos o salvador deste mundo fantástico.

         A segunda parte do livro foi a que mais chamou minha atenção. Como li já na idade adulta, muitas das ações do herói da história se mostravam contraditórias à tudo que um verdadeiro herói de contos infantis deveria fazer. Não, ele não se torna um anti-herói, mas sim, quase um vilão ao se deixar levar por uma série de sentimentos e ações ruins (que á principio poderiam parecer boas). E é aí que a história, como num dos atuais filmes da Pixar, se diferencia para adultos e crianças: reconhecemos as falhas “adultas” neste herói, coisa que as crianças não perceberiam facilmente. Michel Ende parece buscar através de metáforas analogias com a vida real. Reflexões sobre ambição, orgulho, egoísmo são colocadas nas entrelinhas de toda narrativa da segunda parte do livro – como se o mesmo tivesse sido escrito em momentos distintos da vida do autor. Uma passagem que me marcou bastante foi um lugar chamado “Sala das Mil Portas”: trata-se de um lugar que pode nos levar aonde quisermos, assim como nos manter presos por séculos. Quando nosso herói se descobre nesta sala (um recinto hexagonal composto por três portas em paredes alternadas) ele perde um bom tempo até compreender que é necessário ser mais preciso na escolha de qual porta abrir para não cair em outra sala hexagonal. Ele passa então a escolher as portas que mais lembram o seu real desejo e finalmente consegue sair de lá. Assim como na nossa vida, as escolhas corretas o levaram aonde queria chegar!
         
         Outro detalhe interessante neste livro são as inúmeras de possibilidades de histórias a serem criadas: Michel Ende não ignora ações e nem personagens, e assim alguns têm seus cinco minutinhos de fama, sendo descartados em seguida com um “mas esta é um outra história, e terá de ser contada em outra ocasião”. Para uma geração de criadores de fanfics, essa deixa do autor é um prato cheio para a expansão das fronteiras de Fantasia.

            Lançado em 1979 e ainda atual, A história sem fim é o típico livro que atravessará gerações!

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